Na
antecipação da preparação do próximo ano letivo de 2012/2013, têm vindo a
público, via Ministério da Educação e Ciência, medidas propostas que nos devem
fazer refletir no estado da educação em Portugal, mas também no caminho que
seguimos e que determinará o futuro das próximas gerações de jovens
portugueses.
Gostava pois
de analisar aqui 2 das medidas já anunciadas e que prometem vir a ser muito
contestadas na praça pública:
- Possibilidade de
agregação em turma dos designados “Bons alunos” e dos “Maus alunos”;
- Alargamento do
número mínimo e máximo de aluno por turma.
No que à
primeira diz respeito, anunciada no passado dia 13 de abril pelo jornal Diário de Notícias, o que está em causa
é a possibilidade de as Escolas decidirem sobre o agrupamento em turma dos
ditos “Bons” alunos e “Maus” alunos.
Tal medida, no
meu ponto de vista, e se vier a ser tomada, coloca em causa todos os grandes
princípios do ensino moderno, mas também o conceito de Escola Pública num país
pluralista, democrático e onde todos têm as mesmas oportunidades.
O que está
em causa é juntar os alunos com melhores notas numa turma e “os
outros”
noutra turma, quebrando-se princípios basilares como os de “Solidariedade”,
“Igualdade”, “Entreajuda” e acentuando os de “Discriminação”, “Superioridade”,
“Elitismo”, etc.
Condicionam-se
estratégias de desenvolvimento pessoal numa Sociedade que se quer mais evoluída
socialmente, mais justa e mais solidária, em que os alunos deviam ser motivados,
isso sim, a ajudar-se mutuamente e a estabelecer metas de desenvolvimento
pessoal que pudessem passar pelo apoio a colegas com mais dificuldades.
Dito isto,
surgem necessariamente algumas questões que ainda não parecem ter resposta:
- Como
justificar aos pais que o seu filho é melhor ou pior que outro em função
das suas notas?
- Quais
os professores que darão aulas aos “Bons” e quais os que darão aulas aos
“Maus”?
- Como
quebrar estigmas futuros de superioridade nos ditos “Bons” alunos e como
evitar a depressão e a falta de confiança dos “Maus” alunos?
- Será
que a Sociedade que defendemos (e que defende o Sr. Ministro Nuno Crato)
passa por desistir de grande parte dos alunos portugueses?
Perante este
claro erro estratégico do Governo Nacional para a área da educação, seria interessante
ouvir pais, professores e sindicatos, que até ao momento em que escrevo pouco
ou nada disseram.
Entrando
pois no segundo ponto em análise, anunciou por despacho, no mesmo dia 13 de
abril, o Sr. Ministro da Educação e Ciência o aumento dos números mínimos para
constituição de turmas (de 24 para 26 alunos) e máximos (de 28 para 30 alunos)
do 5º ao 12º ano, com o argumento de não estarem estudados os impactos
negativos destes números no desempenho dos alunos.
Ora, num
momento em que foi conhecido o relatório da OCDE sobre o ensino nacional, em
que se salientam os elevados índices de insucesso escolar em Portugal,
questiono:
- Não
será deitar achas para a fogueira aumentar o número de alunos por turma?
- Para
os professores que já têm dificuldades extremas em conseguir equilibrar e
ordenar muitas das suas turmas, não será um fator extra de pressão e um
aumento ainda maior dos seus índices de stress profissional?
- Não
estaremos a colocar em causa, por razões unicamente financeiras, a
qualidade do ensino em Portugal com tais medidas?
O rumo do
nosso País em matéria de educação parece afastar-se de todos os indicadores
mundiais e, quando muitos valorizavam no estrangeiro o trabalho que tínhamos
iniciado com os programas de ensino, muda o Governo, mudam as políticas. As
boas iniciativas são deitadas por terra por mero despeito politico-partidário.
A meu ver, o tempo se encarregará de julgar estas medidas, que considero grandes
regressões no sistema de Ensino português.