Durante os últimos anos, em que tenho tido a
honra de poder pública e livremente a oportunidade de partilhar com os leitores
da Gazeta de Vendas Novas as minhas opiniões e os meus olhares sobre
variadíssimos temas da vida do País e do Concelho, já escrevi várias vezes sobre “Gestão” da “res pública”.
Num momento particularmente difícil para muito vendasnovenses, gostava
de partilhar convosco um olhar, incidindo sobre a gestão que tem sido feita do
nosso município e das nossas contribuições para a sua vida financeira.
Acontece que, na última Assembleia Municipal de Vendas Novas, foi
tornado público que, por mais um ano, a nossa autarquia apresentou um défice
maior que aquilo que pode suportar um Concelho como o nosso. Tal facto não
seria estranho, caso o entendêssemos na atual conjuntura, não fosse o discurso
dos responsáveis políticos locais dando a entender que em Vendas Novas não há
crise e que tudo vai bem.
De entre muitos indicadores que devem preocupar os Vendasnovenses,
gostava de salientar alguns a que certamente muitos leitores não terão acesso:
- Em 2011 as receitas próprias do município de Vendas Novas já não chegavam para pagar os custos com salários, sendo que a Câmara Municipal de Vendas Novas obteve 4.140 mil euros de receitas próprias e gastou em pessoal cerca de 4.300 mil euros;
- A execução de venda de terrenos ficou-se pelos 5,5%, num total de 100% proposto pelo executivo camarário, tal como já poderíamos prever aquando da elaboração do Orçamento;
- A dívida da Câmara Municipal é já de quase 8 Milhões, sendo que destes quase 4 Milhões de euros são devidos a fornecedores;
- A dívida a fornecedores de Vendas Novas passou de 250 mil para 620 mil euros.
Perante estes dados, reconhecidamente negativos e ainda piores que os do ano passado, respondeu o Sr. Presidente da Câmara Municipal que “é um político e não um gestor”.
Demos pois razão ao nosso edil, salientando, no entanto, que nenhum
líder tem que ser especialista em Gestão. Precisa contudo de ter noções claras
desta e de outras matérias ou estar rodeado de uma equipa que o apoie quando
tem que tomar decisões. Depois deve aliar este apoio à decisão de fator que tem
que lhe ser inerente enquanto líder: ter
uma visão esclarecida sobre o futuro que deseja para a instituição e para as
pessoas que lidera.
Torna-se claro que a autarquia de Vendas Novas navega neste momento “à
vista”, sem noção do rumo que segue, nem do impacto que os seus atos de (má)
gestão tem na economia local.
Há neste momento em Vendas Novas muitas pequenas e médias empresas,
mas também instituições em dificuldades extremas por falta de cumprimento da
Câmara para com os seus compromissos.
Mesmo admitindo que o contexto que vivemos é de uma dificuldade
extrema;
Mesmo aceitando que nem sempre os Governos cumpriram para com as Autarquias
os seus compromissos;
Mesmo admitindo que o Sr. Presidente da Câmara não é um bom gestor
(nas suas próprias palavras);
É mesmo assim impossível de admitir a situação a que o nosso Município
chegou.
Como aceitar que grande parte das
dívidas existentes seja a instituições de Solidariedade Social e Proteção e Socorro
a Vítimas que, pelos importantes serviços que
prestam às populações, não podem nem
devem ser penalizados por atos menos conscientes de gestão municipal.
Já o filósofo grego Sócrates dizia: "A Administração [Gestão] é uma questão de habilidades, e não de da técnica ou experiência. Mas é preciso antes de tudo saber o que se quer."