segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Você que se absteve…. Ganhou?

Nunca vivi sem Liberdade, mas acredito que a minha vida seria diferentemente pior.

A Democracia, como qualquer sistema político, é frágil e necessita da atenção que lhe merece a História de todo um País. Não foi sem sofrimento e sacrifício que chegámos a um sistema fundamentado na Liberdade. Mas será que valorizamos este singelo mas essencial facto da vida de todos os portugueses?

Na verdade penso que não. Se não, vejamos: no passado dia 23 de Janeiro realizaram-se eleições Presidenciais, tendo Cavaco Silva sido eleito com 53% dos votos, mas por apenas cerca de 20% dos cidadãos portugueses. Em Vendas Novas, a escolha não foi muito diferente, tendo a abstenção atingido o marco histórico de quase 52%. Tal facto significa que mais de metade dos eleitores não votou.

“O dia está muito frio! Vou ficar à lareira.” – Esta era frase chave do dia eleitoral na boca de muitos cidadãos. Pergunto eu: O que seria de Portugal se, durante os meses e mesmo os anos de preparação do 25 de Abril, os militares e restantes resistentes tivessem ficado em casa à lareira porque estava frio? Será que algum desses heróicos homens pensou no seu próprio bem-estar? Acredito que não, porque, nesse dia, o que estava em causa era um bem maior que o individuo, um sentimento mais importante que era Portugal e a liberdade que os portugueses mereciam.

“A campanha foi má e pouco esclarecedora. Nenhum dos candidatos me diz nada.” – Outra, legítima, afirmação de muito portugueses. Pergunto eu: Será que o espírito de contributo e participação cívica está assim tão mal que não permite que aqueles que estão descontentes participem e dêem ideias para melhorar o que temos de mau? Ou será que, por comodismo e descrença, nos demitimos da nossa nobre função de ser parte desta República que é Portugal? Acredito que todos temos algo para dar ao nosso País e que a Política só poderá vir a ser melhor se contribuirmos para que assim seja.

“São todos iguais. É tudo farinha do mesmo saco!” – Pergunto eu: Por onde andam aqueles que assim pensam? Se são diferentes, porque não se inscrevem num partido político e tentam mudar por dentro aquilo que está mal nos partidos? Reconheço que há muito trabalho pela frente neste domínio, e que a classe política está sucessivamente em descrédito junto das populações. No entanto, acredito que é egoísta para com o nosso País e o nosso Concelho esta posição. Talvez esta falta de cidadania activa seja um sinal da decadência das sociedades modernas. Como já dizia Eça de Queiroz em “A Cidade e as Serras”, será que quanto mais civilizados somos, mais passivos, mais comodistas, mais aborrecidos e por isso mais decadentes nos tornamos?

“O meu voto não muda nada! Porque hei-de ir votar?” – Pergunto eu: Será verdade? Al Gore perdeu as Presidenciais americanas por cerca de 500 votos na América. Em Alandroal, em 2009, a Câmara “Mudou” por apenas 6 votos.

Perguntem ainda à população de Manteigas se “Um voto faz [ou não] a diferença”. Nas autárquicas de 2005, a Câmara Municipal mudou de gestão por apenas 1 voto.

“Tentei ir votar, mas não consegui porque a minha mesa de voto mudou com o Cartão de Cidadão” – Pergunto eu: Ainda entendemos como um sacrifício um direito que nos é dado de escolhermos os nossos representantes? Será que apenas nos lembramos dos nossos direitos? Não há desculpas para a existência de problemas no dia das eleições, mas não deveríamos todos ter o cuidado, enquanto cidadãos de plenos direitos, de procurar esta informação atempadamente? Acho que essa é a parte dos nossos deveres de que nem sempre nos lembramos.

Concluo dizendo que ainda me lembro dos relatos do meu avô a ensinar-me o valor da Democracia e do poder do voto popular. Um homem que hoje não compreende os que não votam, pois esse foi um direito como qual não nasceu e pelo qual teve de lutar. E eu, enquanto herdeiro de Abril, ainda hoje penso que o valor de tudo o que se conseguiu em Democracia vale muito mais que um dia apenas sem Liberdade.

Depois, é como diz a canção de Sérgio Godinho: “A Democracia é o pior de todos os sistemas…com excepção de todos os outros!” Ajudemos a construir um melhor futuro para o nosso País. A participação cívica só nos enriquece enquanto membros de uma Sociedade e ajuda-nos a deixar um melhor legado às futuras gerações. Participemos em cada dia um pouco mais!

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