terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Desenterrar a Esperança


Registou-se no passado dia 13 de Janeiro uma das piores catástrofes de que há memória na história da Humanidade. Um sismo violento, injusto e sem comparação, que atingiu e abalou todo um país.
 
Como todas as tragédias naturais, este sismo de magnitude 7.0 na escala de Richter, trouxe o sofrimento e a dor a milhares de pessoas que, subitamente, se viram sem os seus familiares e amigos, mas também sem nada do (pouco) que ao longo de uma vida tinham construído. Não podemos imaginar aquilo que sentiram os haitianos naquele momento, nem tão pouco o que sentem actualmente com a dor da ausência.

Temos sido sistematicamente confrontados com as perdas e sofrimentos daquele povo. No entanto, dentro de toda a tragédia, gostaria de dar destaque a duas histórias que merecem ser contadas e relembradas.

Fiquei marcado pela força hercúlea de Bea, uma menina de 13 anos que, 48 horas depois do sismo, foi resgatada de uma catacumba, onde uma viga de betão lhe prendia o pescoço, a única parte do seu corpo que não tinha ficado soterrada. Ao sair de entre os escombros, com a ajuda de populares que, com as próprias mãos, escavaram para a salvar, Bea disse: “Nunca tive medo. Só pedia que o meu coração não parasse de bater.”

Já as palavras de Peterson, jogador do Sporting de Braga, que viveu a quilómetros de distância o sobressalto e a tragédia de toda a sua família, dão seriamente que pensar. Ao fim de dois dias, quando por fim teve notícias, o jogador relatou: “Estou muito, muito feliz! A minha família perdeu todos os bens, estão desalojados e dormem nas ruas, mas graças a Deus estão todos vivos.”

Aparentemente nada há de comum nestas duas histórias. Na verdade, entre tudo do que as distingue, existe o denominador comum da vontade e da coragem de um povo abalado pela dor, mas que resiste e luta pela sobrevivência. Um povo que mostra o que vale cada centelha de vida e esperança que têm na alma. E mais... Cada um destes casos deve fazer-nos pensar nas nossas vidas.

Devemos pois agradecer pela vida que temos e ter esperança na Humanidade. O agradecimento de Peterson pela vida dos seus entes queridos e a esperança da Bea, que sabia que seria salva. A coragem e a esperança que nos fazem querer continuar a viver, desenterrando forças que nem sabíamos que possuíamos, desenterrando a esperança dentro de nós.

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