Quando pensamos na dimensão histórica da vida das Sociedades percebemos
que 38 anos representam um pequeno intervalo dessa mesma história.
Nas sábias palavras de Churchill, produzidas em contextos igualmente
difíceis: “A Democracia é o pior de todos
os sistemas, com exceção de todos os outros”.
Ora, na visão de um jovem que felizmente nunca viveu noutro regime que
não o da Democracia, torna-se estranho que as gerações que passaram e sofreram o
jugo da Ditadura digam que a nossa Democracia, com 38 anos de vida, está gasta,
que não representa a vontade do povo português e que o seu custo é demasiado
elevado. Pessoalmente, não acredito nestes termos, mas não nego no entanto a
existência de erros cometidos por quem temos escolhido para nos governar e
representar, que muitas vezes faz política para se servir das pessoas em vez de
as servir.
Perante a ganância da finança mundial acabam por ser as Democracias a
pagar a fatura do descontentamento popular como se delas dependessem unicamente
os erros cometidos. Para os tecnocratas da calculadora, a Democracia
apenas representa um grande preço a pagar, mas não por eles, pelos cidadãos
(ironia: esses beneficiados que acumulam
direitos e têm vivido acima das suas possibilidades ao longo dos anos e nos
levaram a esta desgraça).
Os nossos Governantes, pressionados, decidem com base nos números e no
corte orçamental e não com base no impacto que esses números ou cortes
representam para as populações que neles confiaram. Esta é a primeira e grande
subversão do princípio da Democracia a que estamos sujeitos e da qual resulta
que:
- Se reduzam os direitos primordiais de uma vida digna (a Educação, a Saúde, a proteção Social) para cumprirmos metas impostas por quem nos vende dinheiro a juros que por si só pagariam o nosso défice;
- Os impostos aumentam em todos os setores da Sociedade para que continuemos os “Bons Alunos” da Alemanha da Sra. Merkel;
- Os Reformados, Desempregados, e todas as classes sociais mais expostas às dificuldades sejam os principais visados pelas medidas de quem diz querer resolver os problemas do País;
- A austeridade económica continue a sua tarefa de desacreditar a política, mesmo quando está à vista de todos que é infrutífera.
Arrisco-me a dizer que vivemos
hoje numa Ditadura económica em que o
que importa é diminuir direitos e subtrair custos à qualidade de vida das
populações, como se esta não fosse o fim supremo de qualquer democracia.
Todos os grandes argumentos e os nobres valores da Democracia caem por
terra perante o poder do dinheiro.
O Povo diz: - Queremos uma vida digna e com um Estado Social de qualidade.
O [Governo / FMI] responde: - Desculpem lá mas
vamos ter que adiar porque não temos dinheiro!
O Sr. Ministro das Finanças sublinha que: "Aparentemente existe um enorme
desvio entre aquilo que os portugueses acham que devem ser as funções sociais
do Estado e os impostos que estão dispostos a pagar".
Parece, segundo alguns, que não é a altura certa da História de Portugal para
viver em Democracia, mas mesmo assim devemos acreditar que ela é possível com
alternativas credíveis.
Mas, quanto custa a Liberdade (que ainda vamos tendo)? Quanto vale o
podermos escolher quem nos representa? Será que a igualdade poderá ter um valor
atribuído?
Mais
do que um conjunto de carros topo de gama, de telemóveis pagos pelos
contribuintes, e de erros políticos consecutivos, a Democracia que defendo representa um conjunto de valores imateriais e
fundamentais para a dignidade humana e que, por essa mesma razão, não tem preço!
Uma Democracia plural e universal, assente em valores humanos em que realmente se
Governa pensando nas pessoas!
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