segunda-feira, 2 de maio de 2011

“E o Povo, pá?”

“…quer dinheiro para comprar um carro novo!

Assim diz a letra de uma famosa canção da comédia de intervenção portuguesa dos Homens da Luta. E será mesmo assim o Povo? Será que nos importamos mais com o nosso próprio umbigo que com o nosso País? E o que significará hoje o “Povo”?

Quando ouvimos falar no “Povo” e nos seus desejos, 2 questões nos devem surgir imediatamente:

1. A primeira, e mais óbvia, tem a ver com aquilo que é a vontade expressa de alguns e que, de facto, nem sempre transmite aquilo que a outra parte do “Povo” necessita e quer. Por outras palavras, se 50 mil pessoas lutam por uma coisa, teremos certamente mais 50 que lutam por outra e outras 50 a quem não servem os 50 da primeira, nem os 50 da segunda.

É nesta diferença que está a riqueza de toda e qualquer democracia. Só mediante as diferenças de opinião se funda aquilo que faz progredir as sociedades e é no questionarmos o que queremos para o nosso futuro enquanto “Povo” que faz de nós seres com vontade e meios próprios para decidirmos da nossa vida.

2. A segunda questão surgiu-me depois de ouvir o Prof. Doutor António Feijó, Director da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no último programa “Prós e Contras” da RTP. Dizia Feijó que a constituição americana se inicia por uma expressão sem tradução perfeita para a Língua Portuguesa: “We, the People” / “Nós, o Povo”. De facto quando falamos do “Povo” em Portugal, há uma imediata declaração de que falamos do que é externo, de algo de que não fazemos parte, sendo mais fácil de dizer “O Povo quer” do que “Nós o povo, queremos…”.

É neste ponto que perde força a utilização do “Povo” na boca de certas pessoas. Quando dizemos mal do Governo, quando nos queixamos das nossas condições de vida, a verdade é que continuamos a dizer que “o Povo sofre e passa dificuldades”, sem dizermos o quão difícil é sermos nós próprios o Povo.

Mas não seremos um pouco egoístas demais para nos colocarmos, muitas vezes, acima da própria Nação? Durante a última semana ouvi vários vendasnovenses da nossa praça que se queixavam de terem sido cortados nos seus ordenados. Alguns reconhecendo que não havia mais nada a fazer depois de tantos erros passados, outros dizendo que estavam a ser roubados e que não poderiam manter o nível de vida que tinham diante desta situação.

Perante isto, coloquei a uns e a outros algumas questões:

1. Deveria o Governo deixar de cortar nos ordenados dos que mais ganham e cortar nos que ganham menos?

2. Deveríamos ter deixado as coisas andar até o País entrar na bancarrota?

3. Deveríamos cortar nas empresas, fazendo com que se deslocassem para outros países deixando os seus empregados sem solução?

4. Deveríamos ter seguido o caminho mais fácil ou será que este caminho difícil que seguimos é o único que podemos seguir para nos mantermos?

A tudo isto me iam respondendo que, “de facto, pouco havia a fazer de diferente”, “ que ninguém viria fazer melhor”, “que pior só mesmo termos cá o FMI”. No entanto, estes cidadãos estavam revoltados e consigo compreender o motivo da sua revolta.

Ainda assim, sou dos que acreditam que NÓS somos o POVO; que aquilo que hoje nos custa é sinal de responsabilidade; que aquilo que hoje não ganhamos e/ou pagamos a mais será revertido em melhores dias para os nossos filhos. Não podemos é assumir-nos como egoístas e pensarmos mais em nós que no próprio País. Se vivemos em sociedade, temos todos que ajudar a ultrapassar os problemas que nos vão surgindo. Agora vivemos em crise, mas é quase certo que “depois da tempestade…”

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